O cidadão sentado no banco em primeiro plano, com aquela tralha e pombos na envolvente encontra-se "estacionado e alojado" no local (Praça do MFA/Praça da Renovação), centro de Almada, há algumas semanas.
Aqui dorme, aqui está no banco 24/24 horas. Aqui come, aqui faz as necessidades fisiológicas que todos os homens/mulheres/animais fazem.
É um ser humano que escolheu este local para "residir" e consta que daqui não quer sair. Aqui está "exposto" à sociedade na principal Praça Pública de Almada. O cheiro nas suas imediações é nauseabundo, constituindo pelas circunstâncias da sua vivência residencial uma agressão e perigo à saúde pública, com os pombos públicos a potenciarem esse perigo já que se podem comportar como agentes e vectores de doenças humanas sendo hospedeiros de parasitas e micróbios.
Ora o comum cidadão adulto que fizesse as suas necessidades fisiológicas na via público tal como este o faz, seria imediatamente abordado pelas forças da ordem e seria penalizado por ofensa aos costumes, ao pudor, à moral e à saúde pública.
No caso, as autoridades municipais, de solidariedade social, policiais ou sanitárias nada decidem, nada resolvem. Limitam-se a dizer que o cidadão já está referenciado.
Referenciado como quê?
Como doente, como suspeito, como pobre, como indigente, como cidadão nacional, como estrangeiro, como imigrante, como trabalhador, como profissional qualificado, como marginal, como ex-político caído em desgraça?
A apelidada democracia em que vivemos, que dizem ser pela justiça social, pela solidariedade, pela defesa dos direitos humanos e pela defesa da saúde pública e da saúde dos cidadãos limita-se a considerar a "referenciação" deste cidadão como um bálsamo tranquilo de seu bom e normal funcionamento.
"Referenciado", a fórmula que tranquiliza a democracia!
Valha-nos esta democracia!
Não precisamos de nos preocupar porque esta democracia está enraizada, atingiu a maioridade, veio para nos defender e cuidar de todos sem discriminação.
Não precisamos de pensar, ter opinião ou criticar construtivamente porque os eleitos só o foram porque são competentes e só por isso é que o povo votou neles. Têm a legitimidade do voto, "o atestado que certifica e atesta a sua competência...não duvidemos, não ponhamos isso em causa
Só não somos felizes porque não queremos.